terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Orixás: Multiplicidade Divina

       A pejorativização da cultura negra pelas políticas de embranquecimento atingiram impiedosamente as religiões africanas, pintadas pelo catolicismo como práticas demoníacas, primitivas e imorais. Muitos desses argumentos baseiam-se no princípio monoteísta. As práticas pagãs, desde as idades mais remotas, foram vítimas de um forte processo de estigmatização material e abstrata. Nações inteiras foram destruidas e obrigadas a uma conversão ao que se dizia a religião de Deus. O politeísmo foi combatido e sucumbiu ao poder bélico dos exercitos cristãos. Gregos, celtas, romanos, egípicios... todas essas práticas religiosas desapareceram. Há realmente  algum "problema" no politeísmo?

     O antropólogo Pierre Verger, em território africano disse nao ter tido a impressão de politeísmo, mas sim de monoteísmos múltiplos. O candomblé que conhecemos no Brasil, com esse panteão de divindades, é uma organização ritual que só se deu em terras nacionais. As nações africanas cultuavam  as dividindades que mais diretamente influenciaram sua história e sua subsistência. Só aqui, trazidos escravizados, esses grupos etnicos, muitas vezes inimigos, se juntaram numa atitude política para resistir a dominação branca, e esse agrupamento só era consolidado quando as etnias passaram a cultuar as divindades umas das outras, gerando a configuração ritual que conhecemos hoje.



      O que quero dizer é que o candomblé é a única - ou talvez seja a única - prática religiosa que cultua uma diversidade de deuses, vivos, na idade contemporânea. Os orixás, o culto a eles, está acontecendo agora enquanto você lê esse artigo. Nesse momento alguém está num rio oferecendo um obará pra Oxum, ou num bambuzal deixando acarajés pra Iansã, tomando um banho de ervas de Ossanha ou estourando pipocas pra Omulu. Essa multiplicidade divina, que são os orixás, compõe uma unidade que é o princípio dinâmico do axé do candomblé. Os orixás se complementam, e Olorum, o deus supermo, os rege. O que conta quando o assunto é religião de matriz africana, é o respeito à praticas que mesmo diferentes da sua, são dignos de respeito. Não se brinca com o sagrado, e o seu sagrado pode não ser o meu, mas também é sagrado! 

Um comentário:

  1. Nossa fico com vontade de conhecer mais sobre o Camdoblé.... mto legal

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